Catarina cresceu em ambiente conturbado, não conheceu o pai , e nunca ganhou um carinho de sua avó. Não que sua avó fosse uma má pessoa , mas não se pode exigir muito de uma senhora de 73 anos , analfabeta , viúva , negra , moradora de favela , excluída, que teve uma filha marginalizada e uma neta , que por trama do destino , acabaria no mesmo caminho da mãe .
E assim Catarina viveu sua liberdade , presa ao molde de seu destino . Transformou-se no que todos já esperavam. Não surpreendeu a ninguém , nem a si própria , pois no fundo , sabia que um dia acabaria no mesmo lugar que sua mãe , e isso não era motivo de vergonha . Ser preso ou ter algum familiar cumprindo sentença era a coisa mais comum na favela onde morava.
Catarina realmente seguiu os passos de sua mãe . Parecia até que sua vida era uma remontagem, uma nova versão do destino que sua mãe viveu. Ao ser presa , Catarina também deixou uma filha . Quando ela olhava os gigantes muros da penitenciária e os pássaros que voavam, sentia em seu peito uma dor que tal contraste lhe causava. Era difícil para ela enxergar e mesclar dentro de si o sentido da liberdade e da prisão .
O único consolo que trazia, era o fato de sua filha ter ficado aos cuidados de uma tia , juntamente , com os cuidados do pai . Mas Catarina era pessimista em relação ao destino , e já imaginava a sua filha naquele mesmo lugar um dia .
Catarina passava os olhos todos os dias sobre aquela carta . Ficava tentado descobrir qual daquelas palavras corresponderia a “mamãe ”. Olhava incansavelmente para o papel , não fazia ali uma leitura do texto propriamente dito , mas sim uma leitura de uma nova vida , de um novo destino que poderia acontecer . Agora ela já acreditava em sua filha . Acreditava que seria possível ver a sua prole em um lugar diferente de um presídio ou de uma boca-de-fumo.
Ah..! Aquelas palavras diziam isso tudo ao coração de Catarina. Como era bom receber cartas de frases curtas escrita pela filha . E assim foram as quartas-feiras. Catarina passou a amar as quartas-feiras.