domingo, 20 de setembro de 2009

"Paternecessidade" - Bruno Rodrigo





(De todas as vontades que já tive, entrar em sua vida é a de que mais necessito)

Sim, eu aceito

Aceito te olhar no olhos
Buscando no brilho molhado da tua íris
as características dos meus ancestrais
Pegar-te por entre meus braços
Apoiando tua cabeça em minha palma
E ao sentir o teu suspiro, sempre abençoar a tua alma

Sim, eu aceito

Aceito o desafio que o teu sereníssimo sorriso me faz
Nasceste como ícone da formosura, e com o silêncio dos lábios,
Pedes-me a paz
Então serei eu a tua bandeira branca
O vazio que preenche toda a falta
O acorde inerte que toca falsa, o corpo quieto que te nina enquanto dança

Sim, eu aceito

Aceito ser lua em noites de breu
E ser sol quando acontecerem as tempestades de neve
Ser grande quando precisares de sombra
E para levantar o voo do “balão mágico", serei gás leve
Serei outono quando quiseres brincar com as folhas amareladas
E servo vassalo quando quiseres ter gratidão
Serei a “amarelinhaque tu brincas sobre a calçada
E compus a canção de ninar perfeita para inspirar os teus sonhos de verão

Sim, eu aceito

Aceito, quero, espero e preciso ter-te como filha  
E tal necessidade minha, liga-se a tua necessidade de me ter como pai, como protetor
Existe um mundo que será nossa estrada, nossa trilha
Que nos levará ao ponto mais alto do “podium” da vida, e nossas medalhas serão o amor

sábado, 19 de setembro de 2009

Sem medo, o papai está aqui!


- Papai, papai! Ô “paiê”!
Gritou a garotinha desesperadamente. Como uma donzela, que vive em um reino de um mundo encantado, ela socorria-se ao seu pai, que no caso, seria o seu o seu bravo guerreiro protetor. Ela gritava fortemente, afinal, o seu herói estava em um reino muito distante, a milhões de quilômetros dali. Pelo menos para ela, essa era a distância entre o seu quarto e o de seu pai. Ela se abraçava com o seu ursinho de pelúcia por debaixo do cobertor com intenção de protegê-lo. Porém, quem a protegeria da tempestade que, pela janela, persistia em entrar no seu lindo quarto? Sentia muito medo e o seu coraçãozinho estava disparado. Puxou fôlego para mais um grito, mas não foi preciso. O seu herói acabava de entrar pela porta e segurava a sua mãozinha:
- Xiii... quietinha coração. Fique calma, papai está aqui. O que foi? Uma princesa linda como você agora deu para ter medo de chuva?
- Mas desta vez fez é diferente. Está fazendo muito barulho, nãoestrelas no céu e acho que tem alguém querendo quebrar o vidro da janela. Por quê quando chove as estrelas desaparecem? Elas têm medo de chuva?
-Não é nada disso minha flor. Deixa eu te explicar. O céu é um manto que cobre todo o mundo. Um manto azul e estrelado bem parecido com o seu edredom. Toda noite, Papai do Céu vem, cobre-nos com o edredom cheio de estrelinhas e a gente dorme.
- E por quê hoje ele não nos cobriu papai?
- Ora, porque hoje é o dia de lavar roupa suja. O Papai do Céu está lavando o edredom. Por que você acha que está caindo tanta água? Lavar um “cobertozão” desses gasta muita água minha filha.
- E todo este barulho?
- É a máquina de lavar do Papai do Céu. Uai minha filha, se o edredom é enorme, a máquina de lavar também deve ser bem grande, então... faz bastante barulho mesmo. que tem uma vantagem!
- Qual papai?
- Hoje os seus olhos estão brilhando mais do que de costume. Sabe por quê?
- Não. – Respondeu a menina curiosa pela resposta.
- Exatamente porque hoje não tem estrelas. As estrelas brilham porque à noite você fica olhando para elas, daí, as estrelinhas roubam um pouquinho do brilho do seu olhar para poderem brilhar no céu. Como hoje não tem estrelas, os seus olhos estão com o brilho total.


A garotinha retribuiu as palavras do pai com um sorriso doce. Virou-se para o lado e adormeceu sem mais sentir medo. No outro dia, levantou-se e entregou o seu edredom para o seu pai e disse:
- Quero que lave o meu edredom. – A mamãe que estava ao lado logo disse:
- Não minha filha, deixe que eu lave. O papai tem outras ocupações.
- Que nada mãe! - Respondeu a garotinha - Se até o Papai do Céu lava cobertores, porque o papai não pode lavar também?


Naquele dia o papai não pôde ir ao jogo de futebol com os amigos. Embora o edredom da garotinha não cobrisse o mundo inteiro, como o do Papai do Céu cobre, até que ele era bem grandinho, e a sua lavagem custou-lhe a tarde toda.

domingo, 13 de setembro de 2009

Beatriz descobre o mundo


(minha florzinha, plantada no meu jardim e recém chegada)

Beatriz descobre o mundo porque o manto que cobre todo o mundo é azul e tem estrelas
assim como o seu edredom.
Descobre o pôr-do-sol, o Garantido e as e as rosas vermelhas porque tudo isso foi feito por ela à giz de cera.


Beatriz descobre o mundo porque foi ela quem o fez.
Ela viu o quadro negro e desenhou o sol, daí se fez a luz.
Viu a terra seca e quis brincar com lama, daí se fizeram as águas.
Quis sentir o vento no rosto e os cabelos à voar, daí se fez o ar.
Quis compor uma canção, mas os acordes, ainda inertes, não produziram música.
Beatriz então disse: - Que haja luz, riacho, ventania e somentão tudo foi feito, e Bia viu que tudo aquilo era bom.


Beatriz descobre o mundo porque ele cabe em sua palma,
porque os traços do universo são mistérios com explicações que estão em sua alma,
porque as marés precisam da sua fúria
e a praia da sua calma.


Beatriz descobre o humano, porque o seu olhar deixa o coração à nu,
porque as máscaras caem para apreciar as verdades do seu semblante,
porque seus olhos são futuro, e dentro dele, meu presente espiar é só um instante.


Beatriz desfaz, desmonta, remonta, vira de pernas para o ar, põe de cabeça para baixo e faz da “Mãe Gaia” o que bem quer.
Ela tem posse de tudo que existe, tudo foi feita por ela e para ela, minha deusa-menina-mulher.


Beatriz descobre as palavras, porque essas, são apenas escritos e símbolos fonéticos, que buscam em Beatriz uma tradução.
Bia batiza todos os seres, cria substantivos e predicados. O verbo,que no início era Bia, e que também sinaliza sua ação.


Beatriz descobre o mundo, porque nela se deságuam as chuvas da esperança, as torrentes da bem-aventurança e o rio do amanhã.
Porque ela profetiza e abençoa, porque o mundo está no seu recreio, e o sentido da vida está em sua torta de maçã.


Beatriz descobre a todos, mas ninguém descobre Beatriz.
Ela é perfeita demais, ela é fera, anjo, jóia, trilha, perfeita filha.
Ela é rosa, amarela, lilás e possui o odor mais puro que a deusa das flores,
Ela é o ápice do enredo dos autores, o arranha-céu mais belo do engenheiro,
A cartilha dos professores.


Beatriz encanta o mundo, porque ela é o traço mais retilíneo do Niemyer, é a poesia épica que o Vinícius não fez, o acorde que o Jobim não tocou, é o sonho que a Bethânia não sonhou, é a pedagogia que o Freire não estudou, é a novidade que o Gil não contou.
O Chico passou perto, mas Beatriz é única, e o “que será” da “roda viva” do seu destino, ninguém imaginou.


Beatriz descobre o mundo, porque esse precisa dela para ter sentido, e para existir em cores, se abre em amores à Beatriz, implorando para que ela o experimente.
Afinal, o universo precisa de Bia-Bia para ser gente.


Beatriz rege o mundo, porque as estações do ano baseiam-se no seu humor
As fases da lua são divididas pela suas vontades
As aves não gorjeiam canções se ela não compor
A sensibilidade da pele do poeta, sem Maria Bia, fica torpor


Não gerei Beatriz, ele é que me gerou “Pai”. Sou eu quem pertence à sua casa,
Abrigo-me por debaixo da sua asa.
E se ela se faz frágil em dado momento, é para assim melhor me ninar.
Pois quando nino Bia, o amor descansa em minha alma, meu coração vira correnteza que procura o deságue junto ao mar.


Desaguarei em Mar, Maria Beatriz.


Para ensinar os planetas a terem luz própria, és estrela que forte pulsa,
Tu guias magos e navegantes,
realizas os desejos do órfão, sua lágrima cristalizada é diamante.
Brilhas no peito de “Órion” bem mais que as outras Marias juntas.
Não perdes o brilho, não se apaga em noite sem lua, Você Minha Filha... Nunca cai.
E foste uma grande Mãe para mim, enquanto no ventre filial do seu amor, me gerastes como pequeno pai. Amo-te.