quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Existe um criador - Bruno Rodrigo


Ó sol que nasce no oriente! Que aquece tanta gente

E vem ao ocidente encontrar o seu pôr
Responda-me com sua luz calorosa
Quem é o seu criador?

Ah! Lua tão envolvente, que enamora tanta gente
Provocas a maré e reinas o céu
Antes que o sol venha a nascer
Quem criou teus quatro ciclos? Quem fez você?

Pergunto também as montanhas, Alpes e cordilheiras
Quem é o vosso pai? Quem ousou vos criar?
Nascentes, rios e cachoeiras.
Quem traçou o destino de suas águas, quem vos ensinou o caminho do mar?

Árvores que suportam o outono
Flores que se despedaçam no verão
Cigarra que tanto cantas na primavera
Quem é o autor de sua canção?

O homem criou o bio-disiel e a fibra ótica
Conquistou o fundo dos mares e americanizou a lua
Fez a Rússia comprar Cheetos e beber Coca
Suas revoluções quebraram muros e lotaram as ruas

Decifram o código genético
Clonam as ovelhas e manipulam os embriões
Esquecem do próprio código ético
Escravizam os menores das piores das nações

Ó ser de grandíssima estrutura
Dotado de inteligência, o qual chamamos de homem
Por que não aceitas que também é criatura
Por que não aceitas que Deus existe? Tira do peito esta amargura.

Deixe ecoar na sua consciência
O mistério da criação do universo sem limite
Com a voz da razão pergunte a natureza
E voz da fé responderá: - Deus existe, Deus existe.

LUANA - Bruno Rodrigo


O que seria da minha euforia se não fosse a sua calma?

O que seria da minha cara fechada se não fosse o seu sorriso?
O que seria da minha complexidade se não fosse a sua simplicidade?
O que seriam dos meus medos se não fossem os seus desafios?

O que seria da minha espera se não fosse você meu porto-seguro?
O que seriam das minhas esperanças se não fossem as suas indiretas de “me compre um bombom”?
O que seria do meu cabelo se os seus olhos não os olhassem por espreita?
Por que eu haveria de comprar perfume e roupas novas se você não reparasse?

O que seria da lua se o sol brilhasse o tempo todo?
O que seria da praia se o mar rompesse o seu limite?
O que seria do canto se os ouvidos não escutassem?
Ou que escutariam os ouvidos nas noites tristes se as vozes não cantassem?

O que veriam os meus olhos se a natureza com contrastes de formas e cores,
não tivessem criado você?
Em quê minha alma se inspiraria? O que minhas mãos iriam escrever?

Se você não existisse não seria eu um poeta
Seria eu um médico cardiologista qualquer.
Pois do coração físico é possível tratar apenas por ser doutor
Mas do coração da alma... só quem cursa a faculdade do amor.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Papai X Era uma vez...

Esforçado e dedicado pai que era ele! Amava a sua filha acima de qualquer coisa. Tornou-se assinante da revista “Pais & Filhos”, leitor frequente dos livros de Piaget e de bons artigos de psicologia infantil. Era um pai adorável. Perder a apresentação de sua prole na escola? Jamais. Desmarcava qualquer compromisso.

Era sim, de fato, bastante orgulhoso. Vivia dizendo que o fato de ser homem jamais afetaria a sua relação com a filha. Por isso, desde já lia revistas de adolescentes e se interava cada vez mais do universo feminino. Embora a sua pequena só tivesse 5 anos de idade, ele queria se precaver. Dizia: - Quero estar preparado para responder qualquer dúvida de minha filha.

Na verdade, era orgulho. Machista como ele só, jamais admitiria que a mãe tivesse mais afinidade do que o pai. Em sua obsessão por ser o preferido da filha e poder ostentar isso a sua ex-esposa, fez também cursos de maquiagem, culinária, aulas de balé, corte e costura e aprendeu tudo sobre a Xuxa, a Angélica e a Barbie. Tudo para ter mais coisas em comum com a sua filhinha.

Certa vez, passou em frente a uma livraria: “Liquidação de Livros infantis! Fique mais próximo do seu filho através dos livros”. Marketing perfeito. Escolheu alguns clássicos e pensou:

- Minha filha vai adorar! Sou mesmo um pai melhor do que a mãe.

No fim de semana, quando pode estar com a sua filhota, ele logo mostrou os livros:

- Vamos nos divertir muito. Vou te contar um monte de historinhas.

- Beleza, legal! – exclamou a menina.

- Então lá vai a primeira... Era um vez uma menina com cachos dourados que entrou na casinha de três ursos: O urso pai, o urso filho e a ursa mãe...

- Papai, os três ursos moravam na mesma casa? – questionou a filha.

- Sim, minha filha.

- Por quê?

- Ora, porque eram uma família. Era uma mãe, um filho e um papai forte como eu! – Disse o pai tentando impressionar a filha, mas a esperta menina se intrigou mais ainda:

- Então porque eu, você e mamãe não moramos juntos?

Um a zero para a pequena garota. O pai gaguejou, se desconcertou e...

- Vamos ler outro livro? Olha só esse! Era uma vez uma menina que estava andando sozinha na floresta para levar doces para a sua avó, então...

- Papai, porque ela estava sozinha? Por que o pai dela não a levou?

- Chapeuzinho vermelho não tinha pai, minha linda.

- Só tinha mãe e avó?

- Era... bem... ela tinha pai, mas ele estava trabalhando.

- Ela só tinha avó? Não tinha avô? Onde estavam os homens? Só as mulheres é que cuidavam das crianças?

Dois a zero para a garotinha e o jogo ficava cada fez mais difícil para o papai que já não sabia o que fazer para melhorar a sua defesa. Já a garotinha, tinha ainda muita força para atacar...

- Vamos tentar outro livro. Deixa-me ver um no qual apareça a figura de um pai, deixa eu ver... achei! Era uma vez a Branca de Neve. Sua mãe morreu quando ela ainda era um bebê, sendo assim, foi criada somente pelo pai. Está vendo minha filha, a Branca de Neve foi criada pelo pai. Ele deve ter se esforçado muito para criá-la sozinho. – e continuou a ler – O pai de Branca de Neve casou-se novamente com uma mulher que tinha inveja de sua filha. Como o pai estava muito apaixonado pela nova esposa, mandou que os soldados levassem a sua filha para o lugar mais assombrado da floresta e abandonassem-na... – nesse instante o pai fechou o livro revoltado – mas o que é isso? Quem escreveu essa história? O Sindicato das autoras feministas? Nenhum pai faria isso?

Três a zero para a filha, e desta vez, foi gol contra. Ela nem se quer questionou nada. O pai se enrolou no meio da história sozinho.

E assim foi... em João e Maria os filhos eram abandonados na floresta pelo pai, a Tuberlina também não tinha pai, os três porquinhos eram uma família de irmãos sem nenhum pai, a vendedora de fósforos então, nem se fala, preferiu morrer congelada a voltar para casa e ser espancada, mais uma vez, pelo pai. Que absurdo! Um pai não podia ler mais para a sua filha? Será que os contos foram criados para fazer com que as crianças desde cedo odiassem os seus pais? E quando falamos em pais não dizemos “pais e mães”, mas sim, os papais. Era revoltante.

Só havia uma maneira de resgatar a sua integridade de homem. Para manter o seu relacionamento perfeito com a sua filha ele nunca mais contou nenhuma dessas absurdas e mentirosas historinhas infantis. Sabem o que ele fez? Comprou de presente para a sua princesinha o mais moderno e desejado vídeo-game da época. Ela adorou!

- Você é o melhor pai do mundo.

- Melhor do que a mamãe também?

- Claro, muito mais.

Vitória! Virada aos 45 do segundo tempo. A sua filha o amou quando ganhou o novo presente e passou a ficar ali diante da TV horas e horas. Até pedia para ir à casa do pai mais vezes, só para ficar ali paralisada na frente da TV. Nada de contos, conversa, balé, maquiagem, bonecas... apenas o belo presente. Nada de perguntas difíceis ou de quebrar a cabeça para entender as crianças. Em vão teria sido qualquer livro de psicologia, afinal, ele havia descoberto uma maneira de ganhar bem mais facilmente o amor da cria. O pai olhava todo orgulhoso a sua filha crescendo sem lhe dirigir uma palavra, vidrada no televisor. Consigo, então, pensava:

- Sou o melhor pai do mundo

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Lamentação de Ícaro - Bruno Rodrigo



Sei que ao me aproximar demais do calor
a cera frágil que une as penas de minhas asas vão derreter
Sei que cairei sobre o teto de Poseidon, abrindo assim,
caminho e estadia eterna no alçapão de Hades

Mas mesmo assim,
Como não ser livre?
De que vale ser prudente e voar, quando na verdade
anseio por liberdade maior?

Ainda que eu pague com a vida
ainda que o mar me apare e me desampare para afogar
Mesmo que o voo seja interrompido
minha alma tem asas próprias, viajarei para outro lugar

Bobos são os que verão as minhas asas usurpadas
que lamentarão a minha queda, a minha morte
Há guerreiros menos nobres com sangue nas espadas
que em relação a mim, serão de menos sorte

As asas que me adentram para a história
são de água com sal
são as lágrimas que choro, juntamente
com este mar que me condena

E sim, me chamem de imprudente, irresponsável, desvairado
só não me chamem de covarde

O sol me atrai e eu vou
o calor me chama e eu irei
sentirei a cera por entre as penas
e assim, perderei a força que outrora fora mais forte que a gravidade
Cairei entre as espumas das águas
e a tsunami causada pelo impacto do meu corpo inundará uma cidade

Mas mesmo assim eu subirei
não quero tocar o céu
sei que isto não é possível
não quero apalpar os calcanhares de Apolo
nem abraçar o sol
quero apenas subir, subir...
viver a minha escolha ao máximo dos extremos
e como troféu, sofrer a consequência com a mesma extremidade
e assim, cair, cair, cair... cair

Zombem de mim pois, os que nunca sofreram uma queda tão grande
mas lembro aos mesmo que, ao contrário de mim, jamais subirão tão alto.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Eu já li "O pequeno príncipe"




Pequeno planeta gira, vira, gira, mas não sai do lugar
Uma rosa e um garotinho ocupam todo o seu lugar
Talvez possam mostrar
Que o minúsculo-imenso-espaço se expande bem mais...

Coração inocente, inteligência sedenta por saber
Pegarei o primeiro expresso-cometa pra conhecer
o que o restante das galáxias têm a me oferecer
Vou mas... volto em breve

Viajarei por longe lugares
Só pra poder me certificar
Que os outros lugares são dos outros
E o lugar meu é o meu lugar
Demorarei tempo bastante
Que dê pra saudade chegar e apertar
Só pra ver suas pétalas sedantes
Chorarem gotas de orvalho implorando para eu voltar
E ficar contigo, minha flor

Planetas se conhecem, se esquecem assim a todo instante
Mas gente é diferente é gente boa pra se comunicar
Ah! Sei... vim para conversar com os humanos e ver...
O que eles têm a ensinar

Tecnologias, aeronaves, computadores e pontes
Isso tudo vem dos homens, mas uma raposa pode me provar
Que cativar é maior riqueza que existe e faz
O comum se “unicar”

sexta-feira, 12 de março de 2010

Felicidade - Bruno Rodrigo




Viver é difícil.
Ninguém disse que seria fácil aprender a andar de bicicleta
Dos tombos me esqueço através do tempo
Mas, as cicatrizes me dão a medalha da vitória, afinal, hoje eu sei andar de bicicleta

Viver é complicado
Quem disse que não o seria?
Tantas vezes rasguei as folhas de caderno, raivoso, pois não conseguia escrever
Da raiva me desfaço, mas valeu a pena, hoje sou poeta

Viver é perigoso
Mas quem tentou te enganar dizendo que seria seguro?
Sim, já tive medo da falta de claridade, e por isso, tive pesadelos, mas não foi em vão
Os pesadelos agora são doces sonhos em horas de sono. Enfim, aprendi a dormir no escuro

Viver é caminhar para a morte
Assustou? Pois antes de chegar a morte passará pela velhice
descobrirá alí, o quanto amadureceu, e mesmo assim, ainda haverá muito para se "infantizar"
Valerá a pena. Viver é triunfo. É transformação
Não negue o caos que por vezes passará
Não fosse as tormentas, que graça teria a bonança do oceano?