quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Eu não conheço o pescoço da minha filha!!!



Hoje, de dentro do ônibus, vi um pai que, carinhosamente, mordia o pescoço do filhinho e o beijava em pleno ponto de espera. Como sei que ele era o pai? Ora, tal manifestação de amor feita em pleno o centro da cidade, o caracterizou como pai.

Senti uma inveja! Lembrei da minha filha. Pensei no pescocinho dela. Foi aí que me dei para o seguinte fato: “eu não conheço o pescoço da minha filha”! Tenho nas gavetas da minha memória o registro das imagens dos olhos, da boca, do nariz, feição, pé, mão, pele... mas o pescoço... não é que eu ainda não tinha reparado?

Através dessa reflexão, pude concluir também que não conheço muito bem os dedos dos pés da minha pequena. Para ser sincero, nem sei qual dedo é o maior ou mais fino. Que vergonha! E as axilas! Eu nunca olhei as suas axilas! Nunca contei os fios de cabelos, e por ação de uma temporária amnésia, não me lembro quantos centímetros têm suas unhas.

É, ainda há muito o que conhecer, descobrir, desbravar sobre Beatriz. Ainda bem que eu vou ser pai por toda a vida. Por toda a vida dela e por toda a vida minha.

sábado, 7 de novembro de 2009

Entrelinhas - Bruno Rodrigo



No texto da sua vida quereria eu ser uma exclamação
Mas não passo de uma interrogação.
Se bem que muitas vezes chego a ser uma vírgula, um ponto-e-vírgula,
cheguei mesmo a ser dois pontos:
Apenas preparei a fala de outros que, invadindo a sintaxe da nossa história,                 quiseram e querem me impedir de ser personagem.
Enganam-se todos, pois terei muitos travessões, mas quero usá-los todos somente com você.
E ponto final.   

Metáfora e comparação - Bruno Rodrigo






A distância de ti é uma manhã inteira em neblina
Encostar na tua pele é a luz do sol na superfície do mar que atrai os cardumes
Te ter e não ti possuir é como avistar a mais bela flor no alto da colina
Porém, após estafante subida, colhê-la sem poder sentir o seu perfume

Seu sono é feriado de quarta-feira de cinzas, é penitência, é contrição
Seu despertar é o primeiro dia de folia no carnaval
Ser teu e não ser possuído é como ser coração e não ter contração
É ser lágrima salgada pedindo carinho em meio ao canavial  

Não presenciar o seu descanso é ser criança e não poder ter recreio
Ficar longe das suas descobertas é ser Cabral sem direito a Ilha de Vera Cruz
Sermos um do outro e não nos possuirmos é como ser belo e desejar ser feio
Olhar para o mais luminoso sol de 4 de setembro pedindo-lhe que apague a luz    

Rosto, olhos, lábios, sorrisos, cabelos
Bochechas
, cheiro, boca, nariz
Mãos, dedos, pés, mais dedos
Enfim você... ou seria eu? Acho que é você que continua sendo parte de mim. 


Tempo Verbal - Bruno Rodrigo






Amara
Amava
Amou
Ama

O sentido de mulher que vira na mãe
O jeito como a menina o tratava
A mesma menina por meses atrás
A sua própria filha fruto de todo este amor.

Olhara
Olhava
Olhou
Olha

As estrelas, do colo da mãe, pela janela
As estrelas, de cima de um banco, nas pontas do pés, pela a janela
As estrelas, de cima de um banco, pela a janela
As estrelas, pela janela

Escrevera
Escrevia
Escreveu
Escreve

As primeiras letras, primeiros símbolos, sem significados
Poemas e poesias, coisa de criança. Quanto significado!
Alguns trabalhos escolares, universitários, coisas complexas.
Um texto poético que tenta dizer tudo o que disse.