domingo, 5 de julho de 2009

Qual o melhor lugar para se montar um presépio? - Bruno Rodrigo

Certo dia, peguei-me no dia errado. Não tinha nada para fazer do lado de fora, então, fui cuidar do lado de dentro. Fui cuidar do meu interior. Meu corpo passava bem, o mundo, nem tanto. Nos noticiários apenas o agravamento de uma crise financeira que afetava a quase todos, porém das razões da tal crise, poucos eram cientes.

Eu não podia fazer nada pelo mundo, então me permitir ser um pouco egoísta, ou egocêntrico, (se não forem a mesma coisa) e mergulhei em mim mesmo. Entrei dentro do meu ser e fui cuidar do meu mundo. A confusão dentro de mim era enorme, há quanto tempo eu não faxinava aquele lugar? Eu já nem conseguia encontrar nada.

Comecei pelas lembranças da infância. Muita coisa precisava ser descartada, mas outras mereciam um lugar melhor dentro de mim. Passei pelo primeiro tombo de bicicleta, o primeiro beijo, primeiros amigos e fui passando por fases da minha vida. Era muita sujeira para limpar, muito entulho, bastantes telhas de aranha.

O do tempo e do descaso empoeiravam cenas, memórias, conquistas e derrotas que apodreciam dentro de mim.

Aos poucos fui soprando, limpando, dando lustre aos troféus que se encontravam em meu interior. Eu me perguntava:

- Como pude esquecer tanta coisa? Quanta coisa valiosa existia dentro de mim, e eu, cego por buscar riquezas do mundo externo, deixei que tanta coisa boa, fosse sendo entulhada.

De repente, entre as aulas de músicas, ali, em um cantinho de pouca luz, eu vi. Era um presépio velho e sujo:

Meu Deus – exclamei – Como pude esquecer tal coisa? E aproximei-me daquele objeto.

O menino Jesus estava com os braços abertos e cheios de amor para dar. Convidava-me para pega-lo, como se estivesse carente, com saudade, e em seu olhar, uma esperança de quem sabia que um dia eu voltaria. A sua mãe, ajoelhada do seu lado com as mãos em oração, parecia dar graças a Deus por eu ter voltado. As suas preces tinham sido atendidas. Enfim, chegara o dia de saírem daquele cantinho triste de esquecimento para ocupar um lugar de mais destaque dentro de mim. O São José estava feliz, cabisbaixo, mas feliz. Como um pai que ver o filho retornar, e deposita nele todo o carinho que a distância um dia o privou de expressar.

Agora então, eu procurava um lugar digno para aquela obra de arte. Qual seria o melhor lugar dentro de mim para se guardar um presépio? Tinha que ser um lugar bem agradável. Visível, para que eu nunca mais o esquecesse. Bonito, para combinar com a formosura do monumento. Com bastante calor humano, para compensar o tempo de esquecimento.

Não foi difícil achar. Entre as minhas birras de criança para não ir à missa, o ensaio do coral, a primeira comunhão e a crisma, existia um lugar perfeito, ali, bem ao centro de tudo isso.

E ali depositei o Menino Criador, a jovem Mãe do Salvador e o Carpinteiro de Nazaré. Estavam tão lindos. Felizes, não por eles, mas por mim. O menino risonho e cheio de vida humana e divina sabia bem que, ao retornar ao centro da minha fé, minha vida seria mais feliz, mais perfeita, assim como ele. No entanto, para fazer este trabalho de renovação na minha existência, ele contava com a ajuda da sua mãe e do seu pai. Ótimo, encontrei uma família para cuidar de mim. Uma sagrada Família!

Por tanto, descobri que o melhor lugar para se montar um presépio, é no centro da nossa fé, no nosso ser. Ali não se junta poeira nem pó, não se esquece, e de fato, é o único lugar que realmente importa para a Sagrada Família. O Melhor lugar para se montar um presépio, é dentro de nós mesmos.

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Obrigado pela visita - Bruno Rodrigo